domingo, 17 de julho de 2011

O bom filho...

Finalmente, após longa espera, consegui recuperar o acesso ao velho (http://versificando-chapelaria.blogspot.com).Sendo assim, para não confundir-me ainda mais, retomo as postagens no antigo endereço.
abraços e mais abraços,
mariarodrigues

quinta-feira, 7 de julho de 2011

sonho de consumo

Quero muito
um canteiro,
um canto,
um torrão de açúcar
(bem romântico),
uma janela
para o por do sol,
e meu corpo
com tudo isso dentro.

sábado, 2 de julho de 2011

questãozinha vernácula

Uma palavra
dessas que encalham
no dicionário pelo desuso,
decidida ir à luta
vestiu a melhor substância
e apresentou à dona
Gramática seu rol de queixas:
-Quero ser falada,
escrita, sentida,
gesticulada, etc...
A vida é o meu lugar!
Sonho em ser
como a prima Pharmácia,
enxuta, trocar letras,
tornar-me moderna,
andar pelas bocas,...
Ah, o culto dos poetas,
a tese de um lingüista...!
Dona Gramática
preocupada respondeu:
-Deixe de ser tola,
não vês que teu tempo passou;
queres te esvaziar,
prestar-se a qualquer fim,
passar a desdita por graça?
Sossegue Honesta,
não há mais lugar para ti!

segunda-feira, 27 de junho de 2011

Ré confessa

Devo dizer:
nunca esperei
em vão na janela,
nunca passou
por minha cabeça
o trajeto da bala,
nunca pensei em cicuta.
Confesso:
em momento algum
neguei às estrelas,
-em que pese à distância -,
o prazer em roubá-las.
Admito:
sim, como tudo
o que rasteja
cobicei um par de asas,
alfinetei borboletas,
prendi com palavras
ao branco da folha,
pardais, pombas, gaivotas.
Reconheço:
não sou santa,
mas aquela que na madrugada
recebe visitas:
morcegos, vaga-lumes, corujas,
e o que mais se mova
às escuras,
masturba-se em minhas águas
enleia-se em minhas grutas.
Assumo o desconforto
moral de minha mãe
e a indiferença raivosa
de meu pai,
ante minhas fugas desabridas.
Não nego serem minhas
as mãos no tronco
da goiabeira
e no rastro das frutas...
Também são meus os indícios
e as digitais encontradas
no corpo celeste
atrás da escada.
Concordo:
Sempre escolhi
as saídas esquivas,
às delicadezas de gaveta,
sorrisos polidos,
e outras máscaras
que civilizam.
Acontece que não nego
o chamado do fogo,
deixo que o corpo
devolva a palavra
ao braile da pele;
da leitura dos poros,
pelos, salivas, suores...
o discurso no osso,
faço minha festa.

Minha culpa,
minha máxima culpa,
por andar sempre nua
e querer ser outra
: eu mesma.

domingo, 19 de junho de 2011

Ao poeta que existo

Hoje quero ler um poema
que salte da folha
e arrebate a vida.
Desses que cantam
as coisas mais óbvias
como quem as nomeia:
...noites redondas/lua cheia,
rosas que exalam,
fogos que incendeiam...

Hoje só quero o poema
que inaugure existências
e me releia.

sábado, 4 de junho de 2011

Um tiro no relógio

É preciso sonhar,
não o que se requenta
e rumina ao jantar,
mas o sonho que desperta
nos inadequa e expulsa
da mesa posta.
É preciso descer
do muro,
amassar o barro,
moldar o futuro
às nossas urgências.
É preciso buscar
no outro qualquer,
o alguém,
ainda que longe, além mar...
precisar semelhanças
somar diferenças:
-reaproximar).
precisamos reaprender
a amar,
sonhar um sonho
novo de acordar,
abrir portas
reacender o olhar
e incendiar horas mortas.